sexta-feira, 11 de março de 2011

"Aqui jaz" (Conto)

Está lá. Morto e estirado em meio à cidade, mas ninguém o percebe. A pressa de cada pedestre, não permitiu com que enxergassem um maltrapilho ali esfaqueado, literalmente jogado de lado. Está sujo e irreconhecível. Maltratado. Dizem que era bonito e alegre, apesar da "vida" que tinha, quando vivo. Corria por quilômetros, chegava de farol em farol - incansável - e com a cara pintada, fazia a alegria de muitos.
Mas ele foi se deteriorando com o tempo, ele foi se habituando a viver em meio ao lixo. E o lixo se acostumou a viver com ele. Ou nele. E era lixo de todo o tipo.
se tinha família, não se sabe. Apelidavam - no de Bicudo. Freqüentemente, ele perdia o controle e transbordava em lágrimas - escura e expessas. Não suportava mais viver assim.
Era jovem, mas carregava passado e presente taciturnos no viaduto do Chá. Até que morreu. Ou melhor, foi morto. Triste sina e triste cena.
Hoje está lá, o cadáver estendido. Fedido e gelado. Sem vida. Seu nome era Rio Pinheiros. Aqui jaz.

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